terça-feira, 1 de agosto de 2017

Muita gente acredita que os orixás são seres inferiores, perversos e de pouca luz. Ou, então, chegam a defini-los como criaturas demoníacas, com grande poder de destruição, usados somente para o mal. Mas, então, o que realmente são os orixás?
Os Orixás são seres divinos criados por Olorun, nosso Deus único, que o auxiliaram na criação do universo e de todos os seus componentes. A partir daí eles ganharam a função de intermediários entre o criador e a criatura. É através deles que podemos tentar chegar um pouco mais perto de Deus, se isso não for muita pretensão para nós, meros mortais.
Segundo os iorubas, os orixás são os donos da nossa cabeça, ou "ori", e nossos protetores individuais. Eles estão sempre tentando nos transmitir seus conhecimentos, que, muitas vezes, passam desapercebidos pela nossa razão, mas não pelos nossos sentidos. Infelizmente, não damos a devida importância a esse fato, achando que são "coisas da nossa imaginação". Segundo acreditamos, houve uma grande ruptura entre os seres humanos e os orixás, que antes viviam lado a lado, cada um podendo visitar o mundo um do outro; ou seja, a Terra (aire) e o céu (Orun), estavam ligados entre si, não existindo barreiras. Algumas lendas contam que tudo corria muito bem, até um ser humano desrespeitar a ordem estabelecida por Olorun. Seu erro foi adentrar em um local proibido, maculando-o com a sujeira da Terra. Isso não foi perdoado, e a separação tornou-se inevitável. Assim, oxalá soprou o seu hálito divino sobre a Terra, criando o ar atmosférico, que seria, daí em diante, a barreira entre esses dois mundos. Desde então, os seres humanos vivem tentando alcançar o céu e seus seres encantados, sem obter resultado.
Por isso, para podermos detectar o orixá de uma pessoa, assim como sua forma ou qualidade, é preciso consultar o oráculo de Ifá, ou jogo de búzios. Não existe outro meio mais seguro e eficaz.
Através dos búzios, um bom sacerdote será capaz de identificar, o orixá ao qual a pessoa pertence, e também verificar se há, realmente, a necessidade de se fazer a iniciação. Caso isso seja inevitável, a pessoa em questão deverá passar por vários preceitos de confirmação até o dia da feitura.
É fundamental que não haja erros de espécie alguma, pois é com a vida de um ser humano que estamos lidando.
Quando o babalorixá identifica o orixá de alguém, terá, necessariamente de levantar todos os detalhes que estão ligados a ele, como a família ao qual pertence, as oferendas de que gosta, o tipo de comida que mais lhe agrada, seus lugares de ebós, rezas, cantigas, etc. É, também, muito importante saber sobre o elemento da natureza que ele habita e domina, bem como a função que desempenha dentro do universo.
Os orixás podem ser evocados através de rezas (aduras), cantigas especiais, ou pelo seu nome dentro do plantel dos orixás (morunko). Cada um deles tem suas cores predominantes. As comidas também são indispensáveis nas oferendas, variando muito de orixá para orixá.
Existem infinitas lendas a respeito dos orixás, que foram transmitidas de geração em geração, seguindo a tradição oral. Nelas encontramos casos de casamentos entre orixás como, por exemplo, o de Xangô com Iansã. Na realidade, o que essas lendas querem mostrar, através de uma linguagem simples e inteligível, é que esses casamentos representam uniões entre dois ou mais elementos da natureza. Não podemos atribuir aos orixás características e sentimentos humanos

segunda-feira, 31 de julho de 2017

Ebós

O que Ebós?


São uma série de rituais visando corrigir várias deficiências na vida de um ser humano (saúde, amor, prosperidade, trabalho profissional, equilíbrio, harmonia familiar, etc.) A composição de cada ebó depende de sua finalidade e seus componentes irão desde bebidas, frutas, folhas, velas, adornos, alimentos secos , mel, dendê, louças, artefatos de barro ou ágata.

      (Foto do meu quarto de santo)

               Um Pouco da Historia do Batuque


No período da escravidão, vieram junto com os escravos nos porões dos navios da Nigéria e do Benin, as principais raízes dos cultos afro-brasileiros, o Candomblé da Bahia, o Xangô de Pernambuco, o Tambor de Mina do Maranhão e o Batuque do Rio Grande do Sul. Existem por aqui diversas casas de Batuque que seguem os preceitos de determinada Nação (Oyó, Jeje, Ijexá, Cabinda, Nagô...), porém os Orixás cultuados são os mesmos em quase todos os terreiros, os assentamentos têm rituais e rezas muito parecidos, sendo que basicamente as diferenças entre as Nações são o respeito às tradições próprias de cada raiz ancestral e a sua formação religiosa e cultural passada por seus antecedentes, visto que seu culto é vivido e transmitido oralmente na vivencia de seus integrantes. Cada pessoa possui três Orixás protetores, da cabeça, do corpo e dos pés, sendo que todos possuem o orixá Bará nos pés, mudando apenas sua qualidade. No ato de fazer a cabeça, a pessoa dedica todo sua vida ao cuidado ao Orixá em troca de proteção do mesmo. Para sabermos quais serão os Orixás que regerão determinada pessoa, é necessário que seja feito um jogo de búzios. Os Orixás cultuados no Batuque em sua maioria são doze: Bará, Ogum, Iansã, Xangô, Odé, Otim, Ossanha, Obá, Xapanã, Ibejis,Oxum, Iemanjá e Oxalá. O culto aos Ibejis varia de acordo com a Nação, sendo que em algumas são associados e considerados como qualidades de Xangô e Oxum. Normalmente o Batuque começa a meia-noite e estende-se até as seis ou sete horas da manhã, isto também é uma influência dos escravos, já que os negros na época da escravatura podiam fazer seus rituais somente após terminados seus trabalhos para os seus senhores, ou esperar com que eles fossem dormir. Não é costume o uso de paramentas no Batuque, geralmente as mulheres usam saia e bata e os homens um tipo de bombacha bem larga e uma cafta, além das guias. As obrigações no Batuque são constituídas por fases divididas: o serão, a festa de batuque e a levantação . Na primeira semana realiza-se o amaci, o bori e a festa de batuque. Na segunda semana é feito o serão de quatro-pés e por fim realiza-se a festa de Batuque com a mesa de Ibeji. Neste dia, são distribuídos mercados (bandejas contendo todo tipo de culinária dos Orixás) significando a divisão da fartura e da prosperidade com os participantes da festa. Finalizando esta primeira fase ritual, é realizada a terminação com a obrigação de peixe. Na segunda- feira é feita a apresentação do iniciado à cidade, o passeio. Pela manhã bem cedo se vai ao mercado, a praia, e por fim tem o café da manhã que é tomado na casa de um irmão de religião mais velho ou na casa de outro Babalorixá. O Babalorixá tem a responsabilidade de formar novos sacerdotes, que darão continuidade aos rituais. Para isso é preciso preparar novos filhos de santo, passando a eles todos os segredos referentes aos rituais, tais como: o uso das folhas, execução de trabalhos e oferendas, interpretação do jogo de búzios e até mesmo como iniciar e preparar um futuro sacerdote. O tempo de aprendizado é longo, já que os ensinamentos são feitos oralmente, sendo que a melhor maneira de aprender é tendo dedicação e conviver o máximo de tempo dentro do terreiro. Nossa tradição guarda o axé (força) de cada Orixá em um Outá (pedra) que é colocada em uma vasilha junto a outras “ferramentas”, que ficam sob a guarda do Babalorixá ou Ialorixá; mas a força maior está solta na natureza, apenas parte dela, simbolicamente fica no Outá. Nas cerimônias para convocar os Orixás, tradicionalmente, é feito através de cantos acompanhados com o toque dos tambores, com ritmos identificados para cada divindade. As cerimônias são diversas, são ofertados presentes, comidas diferentes para cada um e sacrifícios que envolvem animais de quatro pés e aves; tirando a parte dos Orixás toda carne é consumida pelos participantes e membros da comunidade. Aos orixás rogam-se proteção, saúde, paz, em fim, pedidos específicos às necessidades de cada um em particular. Um caminho que nos faz ter contato com os Orixás é através ocupação; este é o processo pelo qual a divindade se manifesta em seu filho(a) que passou pelos mais diversos rituais de iniciação. Contudo há casos de ocupação de não iniciados. É possível uma pessoa estar assistindo um ritual pela primeira vez e se identificar com as forças espirituais energéticas referentes ao seu Orixá, e ter esta manifestação espontânea. Na maior parte, a manifestação dos Orixás acontece em dias de festas. No batuque, nestas ocasiões, podemos falar; pedir auxílio, consultar, abraçar e ser abraçado por eles; em fim pode-se ter um contato direto com os mesmos. Uma das características do Batuque é o fato de o iniciado não poder saber, em hipótese alguma, que foi possuído pelo seu Orixá, sob pena de ficar louco. Na realidade o questionamento não está no problema da loucura como consequência, e sim no fato de que ao saber que se ocupa, a pessoa pode ceder a vaidade extrema e desta forma banalizar um princípio básico dos Orixás, que está na humildade e desapego material. O Orixá novo não possui o direito de falar, só terá o mesmo quando por decisão do Babalorixá, a passar por um ritual fechado, que lhe dará o direito da fala. Quando o Orixá deseja subir (ir embora), é feito um ritual rápido para que ele seja despachado, devendo o Orixá ficar em "axêre", que é o intermédio entre o Orixá e o estado de consciência humana. Neste momento a pessoa age sob manifestação do Orixá, porém como criança, falando e agindo com infantilidade (neste momento todos os Orixás possuem o direito de falar), comendo doces, tomando refrigerantes e fazendo brincadeiras. Passado o período necessário, o axêre deita no ombro de algum filho próximo e entra em um sono profundo para logo depois acordar como em um susto.